quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Do Cadernos de Escritos e Reminiscências...


Primeiro, seria bom escrever palavras desconexas, porque isso sempre parece um início inteligente. Como que um quebra-cabeças para montar ao longo das páginas, juntos.
É ilusão. Não os inícios, nem a desconexão, nem exatamente o quebra-cabeças, porém, é ilusório querer começar assim: projetando uma trama com um fim reunindo todos os pretensiosos pedaços do início. As vezes parecer inteligente é um saco.
Então, vamos ser mais óbvios e começar como devemos, sem quebra-cabeças, apenas possibilidades.
Assim, podemos ir a caminhos inesperados, que não estavam previstos na "trama" ou no "cenário" (no sentido italiano do termo, que li em algum lugar: uma totalidade congelada de uma ação que transcorre no momento que a capturamos ali, ou algo assim).
É inevitável chegarmos a uma trama, a um cenário, a uma história - começo, meio e fim - senão isto não seria um texto, oras... Mas, mesmo que seja inevitável podemos bagunçar um pouco a ordem das coisas, não? Talvez começar pelo meio? Terminar no começo - embora, se terminamos no começo será o fim de qualquer maneira.
Estou começando a divagar, vamos direto ao ponto:
Comecei a escrever porque, de repente, me encontrei feliz - e estava nu na privada há um segundo quando escrevi isso. Não, não estou feliz porque estava na privada, o tempo é difícil de contextualizar quando só temos sequência de palavras! Estava olhando para o tempo, o outro tempo, lá fora, quando me dei conta disso - felicidade.
Posso querer encontrar algumas razões para isso, afinal, sou um cientista! Podemos dizer que é porque percebi que gosto de alguém, alguém gosta de mim e alguém está num processo de nos gostarmos mutuamente, só que não são as mesmas pessoas.
Não me entendam mal, não sou um pilantra, nem necessariamente o garanhão do pedaço, longe disso, embora tenha minhas qualidades: gosto do que vejo no espelho e cada dia ainda mais (isso não seria outra razão?), mas não sejamos tão superficiais... ou sejamos, porque gostar, ser gostado, gostando mutuamente e de si mesmo não soa superficial, soa para você?
Posso parecer pretensioso, mas não é isso, ou não é só isso. A questão é que estar feliz soa pretensioso num mundo embalado em plástico, até o conceito de felicidade.
Minha felicidade é mais simples e vai além das razões que tentei enumerar. Tem mais haver com uma condição leve e quase escapável, uma sensação de vida que as vezes deixamos escorrer, mas que se a agarrarmos, numa madrugada quente como esta, e a vivermos - mesmo que tenhamos que ir ao banheiro - então, a sentimos como nossa, não parte de nós, mas nós em si (que coisa mais existencialista...).
É uma combinação de pequenas delícias em contexto e o reconhecimento explícito e direto disto, não é uma fórmula, não pode ser - não deve ser um texto de auto-ajuda, que detesto por sinal. É apenas como sinto a coisa toda e sabe, aqui entre nós, é bom, muito, muito bom.
Tanto que escrevi e compartilhei, correndo o risco de não ser lido e compartilhado, mas não importa - reconheci o momento, e tempo, espaço, texto, silêncio, desinteresse social nenhum pode apagar isto.

Wallace Pantoja

imagem: Tempestade de Borboletas, de Reyu Mekai (http://palavrastodaspalavras.files.wordpress.com/2008/07/butterfly_storm_by_reiyumekai.jpg)