domingo, 25 de outubro de 2009

A Casa dos Loucos


Primeiro, o cheiro do tempo, suave e quente, como filhos de um amanhã promissor que estão a beira do abismo enquanto seus pais mergulham em si mesmos, lá atrás, vendo a morte da cria com lasciva e desejo.

Segundo, um silêncio miúdo, como aquele entre o "sim" e o "não" da paixão que está a sua frente, e não podes escolher porque é a vez do outro ter a palavra, então espera - e dói, porque não há certeza do ser correspondido, nem mesmo de que há amor ali, só silêncio então.

Terceiro, rasgando a garganta com um grito cego, porque o futuro parece distante demais agora, porque o presente é insuportável e o passado escapou entre os dedos. Batendo a cabeça contra a parede branca, de um quarto vazio, de uma casa sem esperança.

Quarto, tudo é geometria fria, todos dispostos em ordem como gado num matadouro límpido e higienizado, a Casa dos Loucos, onde um beijo é possível através do reflexo do espelho, onde gigantes se encontram com meninas voadoras, onde o medo de ser o que é não existe, porque ninguém é ser... apenas crianças cheirando a tempo, mofando misturadas umas as outras, no escuro, esperando a libertação de si mesmos.

Por Wallace Pantoja
Imagem: James Nachtwey