quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Parindo Filhos de Realidades...

Sentado numa nuvem, sem asas, sem forma, à contemplar a Terra.
Enfim, não há vencedores. Nunca houve, e sabe por quê?Porque não há regras, elas são apenas invenções fantasiosas de nossas mentes desamparadas. No fundo todos nós sabemos. Agora posso ver que todos são tão feios quanto eu. Vocês podem sufocar o vazio que são com cultura, estética, crenças, sonhos... Mas no fundo sabem o quanto são criaturas horríveis!
Alguns se iludem tanto e tão desesperadamente que vivem quase toda a existência em tranqüilidade, conformidade, pretensa felicidade. Porém, até estes sentem – mesmo que sejam breves lampejos em uma vida inteira – sentem a agonia engolindo suas almas, a sombra que lhes impregna, o buraco podre que são.
Pode ser no ônibus, na escola, na igreja, no cinema, em casa, na cama, em qualquer lugar. Tomados de repente pela sensação abissal de um vazio monstruoso, um nó na garganta que nos engasga de lágrimas, olhamos para todos os lados e nos sentimos sós, completamente sós. Podemos estar caminhando na rua vindo duma festa ou dentro do estádio lotado numa decisão importante – a ausência nos envolve e nos esmaga.
Negue você, bonitinho? Negue você, jeitosa? Negue que uma ou outra vez você não sente um buraco mastigando sua alma? Você pode negar que nunca sentiu o completo abandono roçando sua carne de maneira tão contagiante, como uma doença em eterna ameaça? Um segundo, um tempo, um dia, anos a fio ou a vida inteira?
Não se esconda. Confesse a você mesmo. Aquele ódio inexplicável, aquele sofrimento sem motivo, a insegurança deitado na cama, o pavor súbito e sufocante durante o jantar de Natal com a família. Pode negar? A pontada de caos ou de mal estar no ônibus, na rua – gente feia, muito feia, todos em cima de você. Apenas reflexos teus despertando a ânsia pela fuga...
Fugir? Como?
Se toda esta mesquinhez melosa e nojenta faz parte de nós, somos nós! Alguns descobrem em vida, outros nunca descobrem, mentem para si, mentem para todos. Todos mentem, agora eu vejo. Somos podres, cobertos de feiúra, impregnados dela, mal conseguimos segurar as máscaras – arremedos débeis de um esgar disforme. Assim é nossa essência, minha, tua, dela, deles... por isso, um aviso:
Minta.
Continue mentindo, atolado em cultura, estética, valores, leis, desesperada ordem, pobre coerência... Minta para você e para os outros, ame na mentira, nós somos os mestres nisso. O diabo é um anjo, não esqueçam. Nós e somente nós somos o lixo varrido para fora do paraíso!
Beleza, Sabedoria, taças nas quais devemos nos esbaldar, entornando em nossas caras, embriagando os sentidos, empapuçando nossas chagas – o engodo do engodo. Só assim é possível viver.
Não busque a verdade, ela é feia demais.
E quando a matéria se desfazer diante de nós teremos apenas a realidade frente aos sentidos... e é simplesmente o inferno: sentir vocês comendo, beijando, chorando, dançando, brincando, vivendo, é a mais insuportável de todas as penitências! O mais sublime de todos os horrores – assisti-los no delírio da existência é a forra de Deus para cada um de nós.
“A Verdade vos libertará!”, disse Ele.Ele só não disse que a libertação é um pau com Sua destra bem no meio da nossa cara – “Pá! E te acomoda!”.